IV
João já estava com 14 anos e tinha se mudado pra capital do seu estado, Fortaleza. Lá, ele começou a aprender a dirigir.... um carrinho de mão, pois tornou-se ajudante de pedreiro! Não era bem o que ele queria, mas depois de ter largado a escola, precisava se virar.
Um dia, misturando aquilo que seria cimento, João teve uma ideia: vou fazer esculturas! Todos acharam muito esquisito e engraçado pensar em um garoto como João fazendo esculturas, mas ele nem ligava. João Retinto fazia suas esculturas (se é que se pode chamar assim - eram terríveis) e ia vender na feira de artesanato da cidade. Detalhe: ele sempre deixava sobrar um pouquinho de cimento nos sacos pra poder levar pro seu barraco (sim, já nessa época ele morava mal) e fazer suas obras.
Estranhamente, mesmo por serem as formas mais horrendas da Praça da Iraçema, João sempre vendia todas as suas obras. Isso acontecia sempre que aparecia um "entendido" de arte, analisando a "ferocidade, harmonia, drapeado e cubismo" das obras. João concordava que tinha pensado nisso tudo mesmo e saía da feira um pouco mais feliz.
Viver em um barraco não é facil, que o diga João, um garoto, tendo que lidar com chuvas, ladrões e "parentes próximos". Com o dinheiro que João ganhou na feira, comprou seu primeiro saco de cimento (a primeira coisa realmente "sua") e começou a trabalhar. As esculturas rendiam tanto que João decidiu largar o emprego e se dedicar exclusivamente à arte.
Certo dia, ficou sabendo de uma cidade que era extremamente cultural onde ele podia faturar bem mais: Brasília! João Retinto Magrinho Brasil juntou todo o dinheiro que tinha conseguido e comprou uma passagem para lá. Saindo do aeroporto Juscelino Kubischek, um guarda se aproxima de João e pergunta o que ele estava fazendo dentro da sala de desembarque.
- Como assim, eu estava naquele vôo! - respondeu o João
- Crianças não podem voar desacompanhadas! - retrucou o guarda
- Bom, você vai me mandar de volta?
João acordou no meio da rodoviária de Brasília, meio tonto, com uma baita dor de cabeça. Dois mendigos estavam olhando para ele:
- Ele tá acordando, Geraldo! O que eu faço?
- Nada, uai, pergunta o nome dele
- Ei, minino, qual o seu nome?
- No.....nome? O que é isso? - João tinha batido forte com a cabeça.
(...)
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