Ele se virou, olhou meio triste e foi embora. Uma relação de tantos anos não devia acabar daquele jeito. Foi algo que fiz, pensou. Mas o quê terá sido? Traição assim tem que ter um motivo.
O namoro começara há muitos anos. Quando o português avistou aqueles dois pontinhos flutuando no céu se apaixonou à primeira vista. E depois que se uniram, completaram-se e cada um não existia sem o outro. Faziam promessas de nunca se separarem, um verdadeiro casal em início de namoro.
- Fala de novo!
- Quê, meu bem?
- Aquilo … você sabe.
- De novo?
- É.
- Ok. Eu nunca vou te abandonar, nem te esquecer porque você me faz sentir completo.
- Ah! Que lindo!
Passavam-se os anos e cada vez mais o trema se mostrava útil em casa. Tiveram muitos filhos: um mais exato (cinqüenta), um persistente (agüenta), um que só fazia macaquice (sagüi). Enfim, foram vários os filhos dessa união.
Tudo estava indo muito bem até que o trema percebeu o português chegando tarde em casa, dizendo que tinha sido muito requisitado no trabalho e que quase tinha sido assassinado várias vezes:
- Hoje alguém disse “Pra mim passar …” – disse indignado. E saí de perto pra não sofrer um ataque cardíaco.
- Você está trabalhando muito, né? Todo dia chega tarde!
- Meu bem …
- Não vem com essa! Quem é?
- Quem é o quê, meu amor?
- Eu sei que há outro na história
- Não existe ninguém além de você, fique tranq…
- Não ouse usar o nome da minha mãe na conversa!
- Não foi por querer…
Dias depois, o trema descobriu que a língua portuguesa o havia traído com outros semelhantes a ela. “Aqueles outros” – como se referia aos porutgueses-angolanos, de Macau e dos outros que entraram na história e ele nem ficou sabendo.
Hoje o trema já morreu. E seus filhos estão em “processo de extinção”, sendo ainda vistos, mas já cientes de seu prazo. Fósseis ambulantes.
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